O processo de unificação da Globo está quase concluído. Foi um processo de mudança cultural empresarial, e modelo de negócio, explicou Erick Bretas, diretor de Produtos Digitais e Canais Pagos Globo, no PayTV Fórum 2022, que se realizou em São Paulo no início de agosto.
Bretas participou desde a Califórnia, Estados Unidos, em uma entrevista gravada com Samuel Possebon, diretor da Teletime, organizadora do evento. Na entrevista, o executivo da Globo disse que “a unificação da Globo como uma única entidade corporativa foi feita acompanhando as mudanças. Hoje estamos no ‘mercado da atenção’, por isso buscamos uma visão holística do mercado, transformando o Grupo”.
Para Bretas, nessa unificação, o GloboPlay é fundamental, porque nele se faz a agregação dos canais do Grupo Globo, isto é, TV Globo (Aberta), canais da Globosat e canais digitais do conglomerado de mídia, agora, definido pelo setor de tecnologia como uma Media Tech.
Explicando a estratégia do Globoplay + canais ao vivo, pacote do serviço de streaming da Globo que oferece os sinais lineares do Grupo, disse que isso não é para concorrer com os serviços de TV por assinatura tradicionais. “Não estamos concorrendo com os nossos parceiros de distribuição na oferta. Nossa visão é a da complementaridade, por isso fizemos a parceria com o Disney+”, porque “são conteúdos que a Globo não produz e não pensa em fazer, ou de música, como fizemos com a Deezer”.
Para ele as parcerias continuam sendo importantes e fulcrais para o negócio. “É importante juntar forças. Cada parceria tem uma lógica diferente. Continuamos buscando parcerias. Não queremos quanto mais melhor, mas sim focar em aqueles que completam a nossa oferta”.
Consumo linear
Falando do consumo e da linearidade, Bretas dissse que “os canais lineares ainda terão uma vida longa. Quem produz conteúdo de esportes e de jornalismo, ou quem produz eventos musicais, como o Rock in’Rio que estamos prestes a emitir pelo MultiShow, sabe do valor de esse tipo de eventos para a programação de conteúdo linear. Não é só o evento, mas sim no entorno de aquele conteúdo que se constrói uma grade, programas. Um conteúdo carro-chefe (importante) pode trazer outros valores para montar uma grade linear”.
O executivo disse que é preciso pensar nos hábitos do consumidor, os programas e canais lineares têm um papel importante. “Se pensamos na TV Globo, mesmo que sejam gravados, são importantes, por isso as novelas são importantes para a manutenção dos conteúdos lineares”
Pensado no modelo linear, Bretas disse que no caso da Globo por ter na grade jornalismo, esporte, entretenimento e novelas, “a programação linear vai perdurar muito tempo, vai se reinventar, Nem tudo será linear, mas terá tempo. Os canais de filmes tem um panorama diferente. Canais lineares com eventos ao vivo podem ter espaço na grade”.
Futuro da TV
Segundo o diretor de Produtos Digitais e Canais Pagos da Globo, o futuro da TV paga passa pelo empacotamento. “Existe um limite que é o bolso do consumidor, e quando o bolso está mais fragmentado. Uma parte dos recursos vai para serviços de streaming. Aqui nos Estados Unidos já vemos o empilhamento de serviços de streaming, com famílias que já têm 4,5, 6 serviços. O Brasil onde a renda para entretenimento é menor, esse fenômeno não vai chegar com tanta força, mas vai ter uma disputa pelo consumidor”. Assim, para o executivo é necessário que a TV por assinatura reaja com “ofertas mais compactas”, mais magras com ofertas mais especializadas e mais competitivas.
Produzir conteúdo nacional
Para Bretas continua a ser essencial. “Hoje ninguém opera serviços de streaming com alta rentabilidade, a maioria opera no limite do vermelho.Na Globo procuramos rentabilizar o conteúdo em várias janelas, e assim dividir as contas com a circulação de conteúdos com exemplos do GloboPlay com alguns canais, até que um dia tudo fique unificado. Agora tentamos fazer que o conteúdo viaje, ou seja, que o conteúdo viaje e se internacionalize”.
Segundo o executivo, produzir no Brasil se tornou caro. A aparição de novos players gerou um aumento da produção e isso, fez subir os preços. “Vimos uma alta da produção de conteúdo brasileiro que não foi saudável”, porque “o crescimento de forma inflacionária não ajuda. É uma visão de curto prazo. Estamos em um momento complexo. Não estamos em um momento de recessão do streaming, mas precisamos olhar a produção com mais realismo. A corrida do ouro passou e precisamos entender os valores para não criar uma bolha”.