Raphael Denadai (presidente da Sky)
O segundo e último dia do PayTV Fórum focou no conteúdo e como a tecnologia esta cada vez mais presente na sua construção, além deixou claro que o consumo linear de vídeo continua sendo relevante e analisou as mudanças na cadeia audiovisual
Ainda, destaque para a visão da Globo sobre o mercado de ‘atenção do consumidor’, um mercado que cada vez é mais pautado pelo consumo audiovisual que vai além da televisão. De fato, como resumo, se consolida a ideia de que a TV tradicional e o streaming são complementares porque as operadoras e criadoras de conteúdo tem de estar em todos os devices que o consumidor quer assistir.
A primeira apresentação foi a do presidente da Sky Brasil, Raphael Denadai que anunciou que a empresa vai lançar o seu serviço de fibra óptica que ‘é muito complementar na entrega de nosso produto’, assim a Sky volta ao mercado de banda larga com rede neutra. ‘Vamos lançar bons produtos em termos de mercado. Entramos para ganhar porque ter um produto de banda larga com fibra nos dá uma capacidade de concorrência e poder de mercado aumenta significativamente’.
Denadai disse, ainda, que em um mercado que se está retraindo, a Sky está ganhando Market Share passando de 30,5% (4,1 milhões) em dezembro de 2021 para 31,4% (4,155 milhões), em abril de 2022. ‘Aumentando 0,9% no período. Sabemos que o mercado é dinâmico e nosso foco está em agregar valor oferecendo melhores experiências e produtos aos clientes. Temos um novo acionista argentino, um centenário com investimos nos últimos tempos que nos dá grande velocidade na tomada de decisões, e nós trouxe uma fortaleza que não tínhamos antes’.
Erick Bretas (diretor de Produtos Digitais e Canais Pagos Globo) participou do PayTV Fórum de forma gravada já que se encontra na Califórnia, nos Estados Unidos. Ele falou do processo de mudança da Globo e disse que ‘a unificação da Globo, como única entidade corporativa, foi realizada acompanhando as mudanças. Hoje estamos no ‘mercado da atenção’, por isso buscamos uma visão holística do mercado, transformando o Grupo’. Nessa unificação, o GloboPlay faz a agregação dos canais Globo e todas as divisões da empresa respondem, apenas, aos acionistas da Globo.
Bretas afirmou que os canais lineares ainda terão uma vida longa. ‘O evento ao vivo não é apenas ele, mas sim como se constrói uma grade linear. Temos de pensar nos hábitos do consumidor, os programas e canais lineares tem um papel importantes. Se pensamos na TV Globo, mesmo que sejam gravados, são importantes, por isso as novelas são importantes para a manutenção dos conteúdos lineares’
A seguir, Raymundo Barros (diretor de Estratégia e Tecnologia da Globo) ratificou a idéia de Bretas e disse que o streaming não vai acabar com a linearidade. ‘Enxergamos um ambiente onde os devices poderão se integrar. O Globoplay será o ambiente onde todas as formas de consumo se integram, o um lugar onde o consumidor não enxergue de onde chegue o conteúdo’.
Nesse sentido, o engenheiro da Globo afirmou que o futuro da TV passa pela integração de várias camadas, e que nesse ponto, hoje há uma grande confusão no ecossistema audiovisual, onde se misturam a camada física (TV aberta, fibra, cabo) , a camada de rede (IP, QAM, DVB), do satélite, com as aplicações de streaming. ‘O futuro será resolvido pela aplicação. Ela vai abstrair os meios de distribuição’, já que, desde a sua ótica, haverá uma convergência para o mundo IP, com experiências de consumo que juntem canais lineais com todos os modelos de negócio, ou façam o mix dos dois, modelo ‘que neste momento, parece se tornar o escolhido’.
Melissa Vogel (CEO da Kantar Ibope Media) apresentou ‘Preferências e hábitos no consumo de vídeo’ e disse que no Brasil se consumem 5h37 minutos em media por dia de audiovisual, e que nessa experiência de vídeo, a smart TV é a mais relevante chegando aos 58% dos brasileiros. Vogel afirmou que ‘precisamos deixar de falar de consumo de TV e passar a falar de conteúdo de vídeo’, y que nesse contexto a TV linear chega a 90% das pessoas em um mês, e todos os dias quase o 50% assistem algum conteúdo.
Melissa disse ainda que existam diferenças no consumo é importante entender os hábitos. Nesse ponto, o 79% do tempo de consumo acontece nas plataformas lineares e 21% no consumo online, independentemente do consumo. Assim a TV aberta chega a 4h48 minutos, 2h12 minutos de TV por assinatura, sendo que o AVOD chega a 1h46 e 1h53 para SVOD
O PayTV Fórum 2022 debateu ainda na parte da manhã, ‘Canais e conteúdos para um novo mercado’ analisando como canais, programadoras e operadores desenvolveram novas estratégias de distribuição, com diversificação de plataformas, parcerias, segmentação de mercado e nichos de público. Participaram Fernando Magalhães, diretor de programação e conteúdo da Claro; Renata Afonso, CEO da CNN Brasil; Fernando Ramos, diretor executivo de parcerias estratégicas e distribuição da Globo; Mônica Monteiro, diretora executiva de canais pagos da Band/Newco; e Alessandra Pontes, VP de distribuição da Warner Bros Discovery.
Alessandra Pontes afirmou que, ‘se bem temos mais de 30 canais no grupo, não temos planos de lançar novos canais’ porque a oferta é robusta. ‘O conteúdo da Discovery é o gênero que mais cresceu no setor. Estamos produzindo a segunda temporada de Largados e Pelados Brasil’. Deixando clara a importância do conteúdo nacional na grade.
Entretanto, Fernando Ramos da Globo, disse que ‘hoje o consumidor tem um papel determinante no modelo de negócio. Dependendo a hora do dia e o local, muda o consumo. A estratégia da Globo passa por não confundir o meio com o conteúdo. Assim precisamos ter uma abrangência grande nos meios (PayTV, nosso B2C e novos parceiros de TV e outros players tecnológicos) porque as experiências são diferentes. A convergência mais profícua é na PayTV, porque o assinante pode consumir na TV, no App ou em um Mediabox para atingir o agnosticismo de consumo, seja um assinante da Globo e assista no set-top Box da Claro ou vice-versa. O complexo é que isso fique transparente para o consumidor, quebrando as fronteiras, fazendo a distribuição fluída e sem pressão’.
Após o almoço, Alex Braga, presidente da Ancine, disse no PayTV Fórum 2022, que o grande desafio e estar à altura da sociedade. ‘Hoje lidamos com estruturas do século XX, e esse é o desafio de resolver problemas do século XXI. Nosso objetivo é reduzir esse hiato, esse abismo entre as normas e arcabouço e os problemas que queremos resolver’
A seguir, o painel ‘Conteúdo nacional, mercado e novas plataformas’, analisou a importância da produção nacional nos canais por assinatura, o espaço para o conteúdo brasileiro nos novos modelos de negócio e como o fomento estão funcionando. Participaram Tiago Mafra dos Santos, diretor da Ancine; Julio Worcman, diretor geral do Canal Curta!; Daniela Mignani, Diretora de canais de entretenimento, variedades, infantil e News da Globo; Camila Cecchi, Diretora de Estratégia de Conteúdo & Produção da Sony Pictures Television; e Ramiro Azevedo, Diretor de programação da Box Brazil Media Group.
Camila Cecchi (Sony Pictures Television) disse que o conteúdo nacional é crucial na estratégia da empresa, sobretudo porque ‘sendo um canal internacional saímos atrás dos nacionais. Por isso é importante fazer um esforço redobrado para ter produção nacional. Para a Sony as produções nacionais são importantes. Temos muitas produções estreando este ano, e teremos mais o próximo ano, primeiro pela identificação do público com o que está vendo, depois porque o conteúdo nacional agrega talentos nacionais á produção e vão dar a cara a nosso canal’.
O último painel do PayTV Fórum, ‘Regulação, desregulamentação e competição’, analisou a regulação do mercado de TV por assinatura e as ofertas OTT e como estas convivem no ecossistema audiovisual, e a carga tributaria das operadoras. A conversa contou com a presença de Roberto Mitsuake Hirayama, Assessor da Superintendência de Planejamento e Regulamentação da Anatel; Oscar Petersen, vice-presidente de assuntos regulatórios da Claro; Marcos Bitelli, da Bitelli Advogados; Rodrigo Schuch, presidente executivo da Neo Associação; e Andressa Pappas, gerente geral e diretora de relações governamentais da MPAA do Brasil.
Oscar Petersen comentou que a criação da plataforma de streaming da Claro foi ‘para poder oferecer o serviço fora da nossa aérea de cobertura’ e ‘tivemos uma boa aceitação. Este é o caminho que a indústria está achando, porque o SeAc tem muitas travas, sobretudo as diferenças tributarias. Eu consigo ter o mesmo serviço no SeAC e no streaming com tributações diferentes o que fará que as operadoras migrem para o streaming’.
Por Fernando Moura, correspondente da Prensario no Brasil