Por Fernando Moura, em São Paulo
No primeiro dia do Brasil Streaming 2021 ficou evidente o entusiasmo e otimismo dos grandes players do mercado brasileiro de streaming que apostam em crescimentos de dois dígitos nos próximos anos e avaliam, como o caso da Globoplay, um aumento na sua base de assinantes na ordem de 25%a 30% até final de 2021.
Globoplay espera produzir 102 produções originais em 2021/22, 75 próprias e 47 em coprodução com produtores independentes, disse durante a manhã e participando desde a Califórnia, nos Estados Unidos, Erick Brêtas, diretor de produtos e serviços digitais do Grupo Globo.
O executivoafirmou ainda no painel “Novos serviços e a estratégia das plataformas” que a concorrência da Globoplay no streaming “é muito maior do que a Globo estava acostumada na TV aberta. No mercado de TV paga sempre houve uma competição mais fragmentada, mas nada se compara à guerra dos streamings.
Devemos chegar ao fim de 2021 com 13 ou 14 plataformas diferentes”. Segundo ele, além da quantidade, estamos frente a ‘uma escassez de conteúdo, já que muitas plataformas estão verticalizadas, como a Disney+, que é nossa parceira (…) há uma competição por talentos e por tecnologia. A tecnologia tem a necessidade de escalar mais rapidamente a infraestrutura’. Esses, disse Bretas, são os maiores desafios, o conteúdo e a sua escalabilidade.
O painel contou ainda com a participação de Gustavo Fonseca (DirecTV Go), Aline Jabbour (Samsung TV Plus), Superna Kalle (StarzPlay), y Eldes Mattiuzzo (Telecine/Globosat), que disse que a empresa optou, durante a pandemia, por continuar a ser a primeira janela de exibição.
‘O fato de sermos reconhecidos como a janela premium do cinema gerou um aumentona audiência nos canais lineares, na catch-up TV e o acesso direto. Do ponto de vista prático, estamos sofrendo com o fechamento dos cinemas porque falta a grande promoção. Os estúdios lançavam entre 30 a 40 filmespor ano, e isso se reduziu. Para isso, criamos um selo, o Premier Telecine, ou seja, estreamos produções para suprir essa falta de grandes lançamentos na indústria”.
Segundo ele, “o resultado tem sido muito interessante porque são filmes de baixo orçamento que precisam ser monetizados em plataformas alternativas como a nossa”, e desta forma permitiram entregar novidades aos usuários. “O ano passado dobrou a quantidade de público que consome apenas a Telecine no streaming (direct-to-consumer)’.
Pela sua parte, Gustavo Fonseca (DirecTV Go) afirmou que ‘a audiência na América Latina da DirecTV GO ao vivo é de 70% contra 30% dos vídeos sob demanda, então o papel da plataforma é mostrar o que está acontecendo e, ao contrário do que se pensa, é não apenas jornalismo e esportes ao vivo’.

O segundo painel do dia, ‘Do macro ao micro: oportunidades para o modelo de AVOD e modelos de nicho no Brasil’, contou com a presença de Julio Worcman (Grupo Curta!), Carolina Vargas (Stenna), Cícero Aragon (Container Media e Box Brazil), e Maurício Cotait (ViacomCBS/PlutoTV).
Este último se mostrou confiante e afirmou que a plataforma alcançou, em 130 dias de operação, ‘os6 milhões de usuários ativos no Brasil. Somos uma plataforma segura e gratuita. Aoser um serviço gratuito coincidimos com a cultura brasileira’.
Ainda, comentou: ‘temos conteúdo de vários tipos’. Segundo ele, o sucesso vai passar por modelos de AVOD (VideoAdvertisingonDemand), um dos modelos mais importantes da Pluto TV, ‘onde se tenta reproduzir no streaming a experiência lineal com serviços adicionados. A grande maioria do conteúdo, com 36 canais lineares, não é ViacomCBs’, disse o executivo.
Cícero Aragon (Container Media e Box Brazil) explicou o modelo do novo produto da empresa, a Gremio TV, e disse que o mais importante do projeto é que o canal irá gerar ‘uma conexão permanente com o clube, com o time, integramos Apps em uma única solução, quebrando o paradigma do que o time de futebol não é apenas futebol. Acreditamos que é possível entregar toda a solução em uma única experiência, com toda a tecnologia embarcada’.
Pela tarde, o Brasil Streaming abordou dois temas: primeiro o ‘Licenciamento e contratação de conteúdos para serviços OTT’ e, mais tarde, ‘Cenário regulatório e tributário para o mercado de streaming’. No primeiro, o debate foi sobre o licenciamento de conteúdos nas plataformas OTT e quais são os modelos utilizados no país.

Os participantes foram Fábio Lima (Sofa Digital), João Palomino (LiveSports), Maurício Fitippaldi (CQSFV Advogados), Carlos Alckimin (SimbaContent) e Fernando Ramos (Globo). Este último disse que com as novas tecnologias de distribuição se gerou uma melhora no consumo e na qualidade de entrega, mas que o consumo tradicional ainda é relevante, tanto que ‘existe uma forma muito grande ainda’ e, por isso, a mudança e diversificação da oferta de distribuição para outros plataformas é fundamental já que agora é necessário ‘encontrar e entender que existem outros meios onde o consumo pode ser feito de uma forma mais fluida. Isso pode ser por um produto stand-alone ou de conteúdos lineares na internet’.
Pela sua parte, Carlos Alckimin, da SimbaContent, join venture criada há três anos pela SBT, Record TV e Rede TV, afirmou que hoje está presente em 97% da PayTV brasileira e o desafio passa pelo licenciamento de sinal para os serviços de OTT que começaram a ofertar canais de TV aberta nas suas plataformas.
‘Ante as mudanças do desejo do consumidor, entendemos que o nosso público é mais conectado, por isso estamos forçando a licenciar nossos conteúdos para streaming para democratizar e tornar mais simples a entrega dos nossos conteúdos’, mas explicou o executivo da SimbaContent, os desafios são muitos, porque ‘nós licenciamos o Live Streaming Simulcast dos canais de TV aberta, e não a distribuição VOD do acervo deles. O nosso trabalho passa por isso, e hoje é importante porque há muitos problemas na distribuição. O canal é aberto por uma concessão federal, mas quando o canal muda para a rede porque um operador o coloca em um ambiente controlado e explora esse serviço e recebe algo, se não é licenciado por nós infringe os direitos autorais. Não é possível distribuir sinais digitais dos nossos canais sem nossa autorização’.
No painel final se debateu como o mercado de streaming cresce como Serviço de Valor Adicionado, mas a realidade tributária ainda é confusa para detentores de conteúdos e operadores. Inclusive com risco de tributação internacional. Os participantes Ana Paula Bialler (BFA Advogados), Marcelo Bechara (Globo), Ana Paula Santana (Sky), Marcos Bitelli (Bitelli Advogados), voltaram a alertar sobre a necessidade de ter uma tributação igual para os serviços de TV paga tradicional e os novos serviços de OTT.

Assim, Ana Paula Bialler afirmou que no Brasil falta ‘clareza jurídica’, e a evolução tributária não está pronta para poder gerar essa clareza. Pela sua parte, Ana Paula Santana (Sky/AT&T) disse que existe falta de detalhamento em muitos aspectos, até na fatura que se emite ao usuário.
‘Existe a preocupação da operação do dia a dia. O desafio é operar em um ambiente muito regulamentado como o PayTV, e na OTT, uma oferta nova, mas com regras de operação muito pouco claras. Nós estamos em ambos os lados, sabemos do desafio e precisamos que ambos os mercados (OTT e PayTV) tenham regras mais claras e sejam similares’.